domingo, 5 de abril de 2015

VIVER ENCANTADO

Persuadiram-me a me encantar fácil
E fiz disso o meu ofício.

Encantam-me as moças baldias
Passarelando nas calçadas e ruas,
Os meninos de peitos nus,
Indecisos entre o passe e o gol,
Os ambulantes apregoando vendas,
Os lírios nas floreiras e janelas.

Encantam-me as fisgas de peixes,
Lucilações de prata em contorções,
As aves migratórias em delírio
De nunca chegar, persistindo,
Divididas entre o sol e o temporal,
Os ícones, as imagens, as fotos
Dos antepassados ausentes.

Encantam-me a alegria adolescente,
As flores sem pudor, permitindo-se
A cópulas com abelhas e borboletas,
A fragilidade da criança risonha,
Sem saber dos percalços e tragédias
Escondidas no futuro, só esperando.

Encantam-me a sonoridade súbita
Das palavras prontas aos versos,
Os acordes dos violinos, o planger
Dos violões e sinos nas catedrais,
O vento morno da madrugada,
A espera ansiosa do enamorado.

Encanta-me viver encantado.

Francisco Costa
Rio, 05/06/2014.

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