sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Subterrâneas vozes insistem,
Soturnas e impiedosas,
Me induzindo à discordância,
À dissidência, ao dizer não
Ao que se faz compulsório
Pão nosso de cada dia.

De hábitos diurnos, abomino
O escuro que esconde as cores
E deforma as formas,
Criando ilusões, sonhos mortos,
Irrealizações satisfeitas,
Mentiras que convencem.

Eu nasci para discordar,
Para não lamentar a força do rio,
Mas as margens que o oprimem,
E ver na rebeldia ato criador,
Na acomodação, capitulação,
Rendição sem luta, ignóbil fuga.

Existo para transpor montanhas,
Escalando-as uma a uma,
Mastigando cada pedra,
Sem me servir de túneis e atalhos.

Não me basto nas sonatas do tédio,
Nas modinhas momentâneas
E danças contemporâneas,
No frenesi em sagração ao nada.

Nasci para as sinfonias, para rasgos
De eloquência corrompendo
O que se pretendia silêncio e paz,
A paz dos resignados.

Agastam-me os homens práticos,
Com solução para tudo
E respostas prontas, prisioneiros
Do pouco que sabem e cultuam,
Acreditando-se com a posse de tudo,
Sem perguntas e dúvidas,
Sonolentos, nas sombras
Do que lhes falta, sem saberem do sol.

Descuido da disciplina,
Desatenção da ordem,
Existo para grafitar impropérios
Nas caiadas paredes
Dos bem comportados,
Para mijar nos lagos
Das douradas carpas da acomodação.

Sem rebeldia não há poesia,
Esse grito em mundo paralelo
Porque não cabe cá, ecoando aqui.
Nela me justifico,
E para ela foi que nasci.

Francisco Costa

Rio, 02/12/2014.

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