domingo, 21 de dezembro de 2014

ASSISTINDO TELEVISÃO

Com olhos que me orientam no caos,
Degluto notícias, fatos, passivo
E desorientado, mero assistente
Do que se consuma e me consome.

Um moço roubou a estatal e o povo
Deitado na praia, assistindo a novela
Das seis, sete, nove, intercalando
Telejornais e comerciais confundidos
Com a tribo tabajara em autofágico
Ritual de comer-se por inteira,
A começar pelo crânio no shopping,
Perdido entre promoções e goiabada.

Um papai Noel bêbado dança na rua,
Entre coristas e bailarinas nuas,
Arregimentando pastores na coleta
De dízimos e balas perdidas, camelôs
Apregoando panaceias para verrugas,
Esclerose múltipla e múltiplos apelos
Na passeata desgovernada e tonta,
Pedindo mais porradas e repressões,
Expropriações nos obesos bolsos
E bolsas, contas bancárias do povo.

Rugem motoqueiros e policiais,
Boeings e milicianos, o som do vizinho,
Alternando tiros e música gospel,
Peixinhos ornados de papel dourado,
Em olímpicos nados livres no aquário
De sílex e petróleo, mutilado e manco,
Em artificiais explosões de sorrisos,
Orgasmos contidos, compras e vendas
Apregoadas pelo político no inquérito,
Jurando a inocência dos Judas e silvérios
Cultuados alternativas na programação
Que em outro canal é banal repetição.

Chovem empreiteiras e dólares,
Femininas bundas, promoções
De eletrodomésticos, computadores
Prontos para a conexão com o nada,
Multicoloridos e de poucos dígitos,
Palatáveis e perfeitamente inúteis
Como um poema indignado e louco,
Sem dizer absolutamente nada
Porque dizendo tudo implícito,
De maneira figurada.

Francisco Costa

Rio, 17/12/2014.

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