quinta-feira, 13 de novembro de 2014

PAISAGEM PRAIEIRA

(Diante da estátua de Drummond)

A tarde espreita a revoada de gaivotas,
Coletivas e aleatórias, sobre o mar.
O sol se eclipsa nos prédios, geométricos
E antinaturais, desfigurando a paisagem.

Um velho caminha no calçadão, invejoso
Dos meninos que correm e jogam vôlei
Na areia ainda morna dos restos da manhã.

Alguém pede uma cerveja com tira gosto
A florista deseja a chegada da noite
E dos enamorados, mãos dadas e olhares
Sobre a lua displicente espelhada no mar.

Longe, barcos balançam cascos e mastros
Na silenciosa dança da maré, entre redes
E cardumes, na esperança do pescado.

Sentado no banco Drummond observa,
Silencioso e metálico, compenetrado,
Sem a necessidade de dizer qualquer coisa.

Tudo o que tinha para dizer já foi dito
E escrito, muito antes de se sentar aqui.

Sua imagem de bronze na praia é resquício
Da presença obrigatória em todas as tardes,
Mesmo depois de ter se mudado, definitivo,
Para uma paisagem só de palavras que,
Em silêncio, se ostenta nos livros.

Francisco Costa

Rio, 24/08/2014.

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