quinta-feira, 13 de novembro de 2014

MINHAS VOZES

Oculto em mim vozes outras que não digo,
Escondidas, secretas, de puro anonimato,
Reinando, soberanas, em mundo particular,
Só meu, sem nunca ter se dado a conhecer.

É a voz infantil que se deslumbra, imatura,
Diante de árvores de natal,
Parques de diversões,
Lojas de brinquedos,
Fogueiras juninas,
Circos,
Reduzida a sorrisos disfarçados.

A voz adolescente, ungida de desejos,
Diante do primeiro corpo feminino,
Repetindo-se em silêncio, só no olhar,
A cada novo corpo que chega e fica.

A voz do jovem tramando guerrilhas,
Impondo gritos e exigências, passeando
A indignação pelas avenidas lotadas,
Posta nos lábios crispados,
Nos punhos cerrados,
Nos impropérios.

A voz do jovem pai amealhando o que comer,
Dividindo com a prole, administrando
Com a experiência do novato em desespero,
Cultivando pobreza e esperança.

A voz do viúvo que chora em surdina
E presta culto a uma foto desbotada,
Envelhecida de tão manuseada.

Vozes indignadas, apaixonadas, eivadas
Da minha mais profunda essência,
E que às vezes me escapam aos pedaços
E se anunciam em versos,
Transformando a quase agonia
Em tentativa de poesia.

Francisco Costa

Rio, 25/08/2014.

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