quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Eis que é chegado o tempo dos homens vazios,
Desprovidos do que mais não seja que o ganho,
Habitando a pecuniária materialidade do ter,
Imune aos sentimentos que não os da posse.

Tempo de sorrisos inúteis e superficiais, ocos,
Com a duração exata do que logo será passado,
Porque preso a modismos, estações, momentos,
Mais ligeiros que a capacidade de pensar e sentir.

Eis que é chegado o tempo do automatismo,
Do repetir-se inconsciente, farejando diferenças
No que não destoa ou difere, mas se faz outro,
Porque uniformemente pronto para consumo.

Tempo dos rituais do comércio,
Dos cerimoniais das vendas,
Das celebrações das compras,
Em sacrifício do homem,
Esse estranho utensílio provido de bolsos,
Bolsas, cartões de crédito e contas bancárias
Fazendo-o anexo e complemento do mercado,
Esse deus voraz alimentando-se de consciências.

Eis que é chegado o tempo de homens mortos,
Encarnados coisas que abastecem prateleiras,
Esquecidos de si mesmos nos cabides do capital.

Ei-los, aparentemente felizes, num séquito,
Em orgia, ambicionando o que jamais terão,
A paz perdida na última liquidação.

Francisco Costa

Rio, 27/08/2014. 

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