quinta-feira, 13 de novembro de 2014

AH, OS COMPROMISSOS

Preciso abastecer o estoque de poemas,
Mas compromissos outros me reclamam,
Tão urgentes e imprescindíveis quanto,
Desvirtuando-me das palavras e das ideias,
Fazendo-me automático robô em ação.

Logo vem um vizinho ou morador próximo
À cata de uma ferramenta, uma ave fujona,
Alguma informação prestes a não ser dada.

Depois um neto em crise existencial, mudo
Diante do não da namorada, o telefonema,
O carteiro, algum vendedor ambulante,
A neta de menstruação atrasada em socorro
Do avô liberal buscando soluções e desculpas,
O ronco da turbina do avião, o motor da moto,
Compromissos inesperados com o inesperado,
Desconcentrando-me irritado, mas em sorrisos.

Há que preparar a palestra, municiar-me
De atualizações sobre o pisado e reprisado,
Atento às mesmas perguntas de sempre,
E atender ao gerente do banco, da banca,
E ficar atento ao candidato que discursa
E se condoer com o crime da hora e sentir dor
Justo onde o médico disse que não doeria
E superdosar o analgésico e o calmante;
Engolir sapos, fel e palavrões, que merda,
O dia está findando e nenhum poema hoje,
O parente adoeceu e reclama visita urgente,
Fred ontem fez dois gols, o pesadelo acabou,
Ainda não redigi os dois ofícios e o memorando,
Há o conto inacabado e o romance interrompido,
A crônica política de todo dia, os comentários...

Não demora e o dia acaba, chega a namorada e...
Não conseguirei escrever, muito menos pensar,
Com tantas borboletas e arco íris na madrugada.

Francisco Costa

Rio, 25/08/2014.

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